sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Bem-vindo ao turno da noite


De novo consciente (mas pouco).
Uma agulha afiada perfura os meus ouvidos num tom ensurdecedor.
Nao ha melodia, nao ha nada. Apenas um grito morto e estridente.. sem significado.
As luzes incandescentes e gélidas do meu quarto, que havia deixado acesas, rasgam-me as pálpebras e forçam-me a enterrar o sono no qual havia caído há umas horas (dias, anos...).
Arrasto pesadamente o olhar pela paralisia do meu mundo, inspirando bruscamente um ar grosseiro e frio que congela o vazio do meu peito, tornando a minha ausência de mim eterna. Nao há movimento. Os ponteiros do meu pequeno relógio não contavam mais o meu tempo. Espreito pela janela: não há mais vida neste lugar. O Mundo havia parado. Os carros, as pessoas... E, nem sombra de vento ou chuva. Existo apenas eu, acordada e consciente (embora pouco). Coberta apenas com uma manta de lã, saio pela porta principal e admiro o cenário. Consigo passar por entre as pessoas e compreender cada detalhe das suas faces. Podia passear eternamente pelos seus olhares e nunca ser vista. Mas seria sempre o mesmo. Olhares magoados e cinzentos. Cansados e infelizes. E ninguém sorri. Bocas entreabertas o suficiente para soltar um suspiro de socorro (em vão...). Chega. Volto para dentro e mergulho nos meus lençóis de novo. Fecho os olhos para nunca mais abrir. Aterro na escuridão utópica do meu ser e: fim. Estalo os dedos: que o mundo recomece. Eu paro por aqui.

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